26/09/2011

Tabaco - herança indígena

Índios americanos e europeus trocaram costumes que se revelariam mortais. É muito comum atribuir aos brancos a responsabilidade pelo alcoolismo entre os índios. Em diversas tribos, os homens se tornaram alcoólatras com muita facilidade, o que desestrutura a sociedade indígena. Ninguém, no entanto, culpa os índios por um hábito tão trágico quanto o álcool: fumar tabaco.  

Até os navegadores descobrirem a América, não havia cigarros na Europa nem o costume de tragar fumaça. Já os índios americanos fumavam, cheiravam e mascavam a folha de tabaco à vontade. A planta significava uma ligação com os espíritos e era usada em cerimônias religiosas. Entre os tupis, os caraíbas pregavam em transe, exaltados com o fumo muito intenso de tabaco. Em outras tribos, fumava-se antes de guerras, para aliviar dores e também por prazer.

Nas colônias do Caribe e do Brasil, os poderes do tabaco logo conquistaram os brancos. Apesar de evitarem aderir aos costumes indígenas, os padres faziam vista grossa para o fumo - eles também deveriam dar umas tragadas, pois acreditavam que a "erva santa" fazia bem para curar feridas, eliminar o catarro e aliviar o estômago, órgão que, diante da alimentação brasileira, fazia os padres sofrer.


O tabaco fez tanto sucesso no litoral de São Paulo que Luís de Góis, um dos fundadores da capitania de São Vicente, resolveu levar uma amostra do fumo ao rei de Portugal. Na corte, a planta chamou a atenção de Jean Nicot, embaixador francês em terras lusitanas. Entusiasmado com a descoberta, o diplomata mandou, em 1560, uma remessa de fumo para sua Rainha, Catarina de Médici. A rainha francesa adorava novidades e achou o tabaco sensacional, fazendo a planta cair no gosto da corte francesa.

O embaixador Nicot acabou emprestando seu sobrenome para o nome científico da erva (Nicotiana tabacum), assim como da substância "nicotina". Os primeiros carregamentos de tabaco consumidos entre os nobres europeus vieram do Brasil. É provável que a primeira plantação de tabaco para exportação do mundo tenha sido uma roça paulista de 1548. Por quase três séculos, a planta foi o segundo maior produto de exportação do Brasil, atrás apenas da cana-de-açúcar.

Séculos depois, com a industrialização do cigarro, o hábito de fumar tabaco resultaria numa catástrofe com milhões de mortes. A Organização Mundial de Saúde estima que o fumo vai matar 1 bilhão de pessoas no século XXI. Culpa dos Índios? Claro que não. Os Índios e seus descendentes não têm nenhuma culpa sobre um hábito que copiamos deles, e vice-versa.

Fonte: O texto foi retirado do livro "Guia politicamente incorreto da história do Brasil", de Leandro Narloch.

Um comentário:

  1. A diferença é só que o índio não foi na Europa buscar cachaça, já o branco extraiu contra a vontade do índio o tabaco das terras daqui.

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