A cinebiografia sobre o cantor francês Serge Gainsbourg é memorável. O trabalho do diretor em contar a história de um ícone da música do seu país foi além do plano natural de uma história linear. Como o personagem principal é um grande artista, sua cinebiografia não poderia ser simplesmente realista, com uma narrativa nua e crua.
A escolha dos personagens foi admirável, uma vez que encontrar (bons atores) que apresentem a feiúra de Gainsbourg e a beleza estonteante de Brigitte Bardot é fruto de um ardo trabalho de casting. Mas era preciso ir além do realismo rigoroso.
Era preciso fantasiar a realidade, trazer poesia para a narrativa. E o diretor Joann Sfar consegue isso de forma primorosa. Por ser quadrinista (dom que Gainsbourg também possuia), Sfar desenhou o filme inteiro, e no storyboard criou um boneco narigudo que acompanhará Gainsbourg durante boa parte do filme, tornando os trabalhos do artista mais coerente, uma vez que a criatividade vem da fantasia.
Emoção é a palavra-chave para entender Serge Gainsbourg, que viveu 63 anos sem se furtar a elas, com preferência pelas mais desmedidas e intensas. Quando morreu, em 1991, já havia se tornado um mito bem ao gosto dos franceses, o do rebelde que afronta as convenções em busca de sua liberdade. Compôs jazz, canção, balada, reggae, rock, inventou uma forma de cantar, escreveu um romance, dirigiu filmes, foi ator e ainda tinha um dom incrível para a pintura.
Gainsbourg, o homem, fazia parte de uma extração de artistas, cada vez mais rarefeita, convicta de que o pop não era sinônimo de porcaria. Gainsbourg é e continua a ser um herói, o das causas perdidas.
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